Educação financeira para crianças | dicas sobre conscientização e economia!

A fim de reunir dicas para ensinar os filhos a lidarem com o dinheiro, a redação do blog procurou uma especialista no assunto: a educadora e socióloga Gisela Wajskop, que soma uma longa trajetória em salas de aula e que, atualmente, comemora a abertura da sua própria instituição de ensino.

A conversa se desdobrou em uma importante reflexão sobre economia e sobre como conscientizar os nossos filhos da importância dela. A tão conhecida frase “A educação começa em casa” mais uma vez fez presente, e poderíamos inclusive somar à ela ainda uma observação: “A educação começa em casa – e as lições estão em atividades cotidianas!”. Confira, a seguir, as percepções da educadora quando o assunto é: trabalho, esforço, desperdício, dinheiro, mesada e mais.

DESPERDÍCIO EM CASA

A educação financeira deve começar desde cedo, certo? Pequenas lições do cotidiano, como ensinar o filho a apagar a luz e a fechar a torneira, já são uma introdução?

Gisela Wajskop: Acho que mais do que uma educação financeira as crianças precisam ser educadas para prestar atenção no que fazem, para não desperdiçarem tempo, trabalho e energia. Ou seja, se a criança, desde cedo, aprende a usar a luz apenas o tempo que precisa para deixar o ambiente iluminado ou aprende a usar apenas a quantidade de água necessária para lavar as mãos, lavar uma panelinha ou dar banho em seus brinquedos, elas poderão entender que estarão fazendo uma poupança de energia. Esse fato vai ajudá-las a desenvolverem a consciência de que o desperdício acaba impactando na economia o que já é uma consequência saudável. Eu ainda me lembro de quando era bem pequena e meu pai saia pela casa apagando as luzes acesas em ambientes vazios da casa dizendo: quem aqui é sócio da Light? (Cia de energia à época). No início a gente não entendia direito a brincadeira, mas pudemos entender que isso significava desperdiçar algo e que sua consequência era gastar mais dinheiro.

DINHEIRO X TRABALHO

Existe uma idade/faixa etária ideal para ensinar as crianças a lidarem com o dinheiro palpável?

Gisela Wajskop: Acho que aprender a economizar e a poupar são atitudes mais amplas do que a relação com o dinheiro propriamente dita. O dinheiro é uma representação de esforço, trabalho e tem valor de troca. Quando as crianças são pequenas é melhor que entendam o significado do esforço, do trabalho e dos valores de troca que as coisas têm. Por exemplo, posso dizer para uma criança de 3 anos que não vou comprar um determinado brinquedo pois terei de trabalhar muito tempo para consegui-lo enquanto outro, que é até mais legal e tem mais utilidade posso comprar trabalhando menos tempo. Se as crianças forem entendendo essas relações penso que a partir de 6/7 anos quando elas estão desenvolvendo suas representações gráficas (começam a escrever convencionalmente, por exemplo) podemos introduzir o dinheiro como objeto de uma educação financeira propriamente dita.

Quais formas de começar a ensinar as crianças a cuidarem do dinheiro palpável você sugere?

Gisela Wajskop: Bem aí vai da relação de cada família com o dinheiro. Podemos levar as crianças junto quando formos pagar a compra da padaria ou do jornaleiro por exemplo, mostrando-lhes que pagamos com determinadas notas que valem 5, 10, 20, etc. reais e mesmo assim recebemos um troco. Podemos propor para as crianças que comecem a juntar esse troco até atingir o valor de um pãozinho, de uma revistinha, por exemplo. Assim, elas irão compreender que economizar depende de tempo, de esforço e que o resultado disso tudo tem valor de troca. Só depois aconselho a oferecer um cofrinho.
MESADA

Quando acha que os pais devem começar a dar mesada para os filhos e como controlar isso?

Gisela Wajskop: Acho que a mesada deve ter uma função. Por exemplo, se as crianças precisam comprar lanche na escola ou querem comprar um brinquedo caro ou querem oferecer um presente a alguém da família, podemos propor um valor (baixo) de mesada para que elas possam ir entendendo quanto e como gastam. Penso que a mesada deve ter início aos 8 ou 9 anos, nunca antes disso. O dinheiro deve ter equivalente em objetos e não pode ter valor em si.

Quais os perigos de entregar um cartão de crédito/débito para adolescentes?

Gisela Wajskop: Acho equivocado e essa oferta sugere todos os perigos possíveis. Quando entregamos um cartão de débito ou crédito a um adolescente dizemos a eles que o dinheiro é mágico, vem de um lugar sem valor de trabalho e de esforço e não tem fim. Por isso, a tendência dos adolescentes é a de gastar mais do que podem. Os cartões só tem função para quem trabalha e guarda e consegue administrar como gasta seu dinheiro. Nunca dei cartão aos meus filhos, mesmo para o mais novo que já é um jovem adulto. Ele tem uma conta no banco, na qual cai mensalmente um valor visível e suficiente para fazer seus pequenos gastos e que ele deve administrar. Quando lhe falta ou sobra dinheiro ele pode ir fazendo escolhas do que fazer com o dinheiro. O importante é que ele perceba que é responsável pelo saldo que tem no banco!

E A ESCOLA?

Como as escolas lidam com esse tema no Brasil? E no exterior?

Penso que damos pouca atenção para isso no Brasil. Por exemplo, porque as crianças não levam o cheque da mensalidade a partir dos 12 anos? Elas sabem quanto custa a escola que frequentam? Os passeios? Os lanches da cantina? No exterior existem algumas experiências. Por exemplo, na Inglaterra a educação financeira é parte do currículo da educação fundamental e é trabalhado em sala de aula a partir dos 7/8 anos. Nos países ricos existe a cultura da poupança e a consequência direta é que as crianças discutam isso na escola. Nós ainda precisamos desenvolver uma cultura da poupança, de gastar menos do que ganhamos para podermos fazer escolhas posteriores. Isso pode ser conteúdo escolar desde que não seja moralizado e tenha relação com a vida real. Do contrário não passará de mais uma retórica.

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