9 Dicas para ensinar seu filho a lidar com o dinheiro
A redação do blog teve o privilégio de conversar com a psicanalista Juliana P. Zaroni sobre um assunto importantíssimo: formas de ensinar os filhos a terem uma boa relação com o dinheiro. Essa é uma questão que acompanhará os filhos por toda a sua vida e, por isso, é necessário cuidado para não exercer uma influência negativa. Confira, abaixo, recomendações da profissional do que se deve e do que não se deve fazer.
Dê um bom exemplo
A dica mais importante é o exemplo dos pais. Uma criança que cresce em um ambiente de consumo desmedido inevitavelmente vai reproduzir este comportamento. Vivemos uma época em que consumir ganhou outros contornos: oferece status, promove sensação de pertencimento a alguns grupos sociais, traz um sentimento – superficial – de segurança. São muitas as armadilhas! Se quisermos que nossos filhos sejam consumidores mais críticos e conscientes, devemos ser exemplo disso. A postura dos pais frente ao consumo é a melhor maneira de ensinar o filho a ser responsável.
Conscientize cedo
Eu sou mãe de uma bebê de um ano e meio, portanto esta ainda não é uma preocupação objetiva em relação à sua educação. Mas certamente, quando chegar o momento, a meta será dosar o consumo, preservá-la na medida do possível desta noção atual de que tudo é descartável e pode ser facilmente substituído. O que fazemos desde já, nesse sentido, é ensiná-la a cuidar de seus brinquedos ou não desperdiçar tanto papel na hora em que sentamos para desenhar juntos, por exemplo. Por mais que ainda não compreenda totalmente, é uma maneira de estimular que vá internalizando a noção de economia em um sentido mais amplo.
Conteste a necessidade do consumo
Não é fácil para as crianças regularem seus impulsos e por isso é comum que exijam a satisfação de um desejo, como se fosse uma necessidade. É o que acontece, por exemplo, quando os pais não concordam em comprar um brinquedo ou uma guloseima e elas continuam pedindo insistentemente. Muitas vezes os pais se sentem acuados e acabam atendendo, ainda que contrariados. Nesses casos, ceder ao apelo da criança é ceder aos apelos do consumo a que estão submetidas e isso provavelmente irá se repetir cada vez mais. É fundamental que os pais sejam firmes e contestem se o filho realmente precisa daquilo, levando em conta as prioridades da família e estimulando sua reflexão crítica. Geralmente é apenas a partir da adolescência que se consegue refletir sobre o poder de escolha, suas possibilidades e consequências. Antes disso, cabe aos pais mediar a reflexão do filho.
Shopping = lazer?
Hoje em dia, por praticidade e segurança, muitas famílias reduzem suas opções de lazer a passeios frequentes ao shopping e, como consequência disso, muitas crianças crescem associando quase que exclusivamente seus momentos de prazer ao consumo. Aproveitar as opções culturais ou mesmo ao ar livre que as cidades oferecem, como praças e parques, é uma maneira eficaz de evitar isso. O contato com a natureza e com o conhecimento pode ser muito divertido!
Faça relações entre consumo e impacto ambiental
Estimular desde cedo uma postura reflexiva e crítica acerca do consumo muitas vezes é complicado, afinal, também nós adultos estamos inseridos nesse contexto. Uma saída interessante pode ser estimular que a criança e o adolescente reflitam sobre a relação entre consumo e impacto ambiental. Aqui entra a perspicácia dos pais em poder conversar de forma leve e simples a partir de uma observação corriqueira do filho, por exemplo, sobre como os dias andam mais quentes – ou mais frios, ou mesmo ao observar da janela do carro durante uma viagem uma área desmatada. Só vale estar atento para não transformar a conversa em um “sermão”, sob o risco de que as crianças não aguentem mais falar sobre isso!
Mesada positiva
A mesada de fato é um bom recurso para ensinar a administrar de modo saudável o dinheiro. Quando se tem um valor limitado para gastar durante um período de tempo, a criança ou o adolescente aprende a observar suas prioridades, a distinguir desejo e necessidade, a ponderar se realmente precisa daquilo que quer e a dar valor ao que tem. Os pais devem ajudar o filho nesta reflexão, mas também é importante permitir que ele gaste seu dinheiro com algo que os adultos não considerem tão útil, assim poderá conquistar autonomia ao pensar no melhor destino para o seu dinheiro.
Mesada negativa
Um erro bastante comum é repor a quantia da mesada quando esta acaba antes do final do mês. Flexibilizar o valor mensal a partir dos gastos da criança ou do adolescente promove a sensação de que os gastos sempre poderão ser supridos, quando o ideal é ensiná-los a lidar com limites financeiros. Essa situação é semelhante a que os adultos enfrentam ao parcelar compras e ter de lidar com valores mais altos do que conseguem arcar, se endividando cada vez mais.
Autoestima X bens materiais
Um argumento muito utilizado pelos filhos ao tentar convencer os pais a comprar algo é que todos os colegas já têm e ele é o único diferente. Quando o adulto cede a este argumento, não está ensinando o filho a valorizar seus recursos pessoais, mas sim estimulando-o a associar sua autoestima a bens materiais. Os pais devem ensinar outras maneiras de mostrar-se interessante ao grupo.
Controle no mundo virtual
O acesso fácil a sites de compras de jogos e aplicativos, principalmente, é uma queixa comum a alguns pais que me procuram. As famílias veem o uso da tecnologia como um aliado (no sentido de que estimula o raciocínio, oferece acesso ao conhecimento), mas percebem que as crianças e pré-adolescentes não têm repertório para dosar isso: estão em fase de formação. Especificamente quanto ao consumo, eles se queixam de que muitas vezes os filhos não conseguem escolher o que comprar e acabam se excedendo e a fatura do cartão de crédito assusta no final do mês. Não me parece interessante que crianças e pré-adolescentes tenham acesso ilimitado às senhas das contas dos pais e possam comprar o que bem entendam na internet (muitas lojas online, como a Apple, recomendam que se peçam informações que só adultos possam responder no momento das compras de aplicativos destinados a este público justamente para evitar surpresas desagradáveis). O ideal, então, é que não tenham acesso livre às contas até certa idade, que os pais possam ter o controle de tudo que se compra online e aproveitem para ir mostrando aos filhos que não se pode ter tudo o que se quer, que precisamos questionar se realmente precisamos daquilo que desejamos. No caso dos mais velhos, ou mesmo das famílias que não consigam este controle em tempo integral, uma ideia interessante seria acertar com os filhos um valor limite que eles possam utilizar nestas compras por mês. Assim o filho já estará exercitando uma prática consciente de consumo também no ambiente virtual.
Juliana Pinto Zaroni
Psicanalista
(11) 97635-4962
Jú, Parabéns, acho que todos os pais deveriam ler. Beijos Tia Bebeth.
Demais esse texto, Ju.
Parabéns!
Ótimo tema abordado com objetividade e clareza. Parabéns! Atenção ao plantio de bons pensamentos na infância é fundamental para tornar um ser humano mais consciente. Estou me esforçando para fazer o mesmo com meu filho.