Depressão pós-parto: 9 lições de mães que superaram

O assunto é sério, envolve toda a família e pode afetar o precioso vínculo entre a mãe e o bebê! No período pós-parto, as intensas mudanças emocionais, físicas e sociais tornam tal fase suscetível a perturbações de humor que podem desencadear a tão temida depressão pós-parto. Antes de mais nada, é preciso cuidado ao classificar o quadro, já que as perturbações se dividem em três diferentes tipos: tristeza materna (baby blues), depressão pós-parto e psicose pós-parto.

O baby blues é extremamente comum, afetando uma média de 70% das novas mães nos primeiros dez dias após o parto, já a depressão pós-parto é menos comum: ocorre entre 10-15% das mães, e a psicose pós-parto é extremamente rara – vista em cerca de 0,1% dos partos.

CLASSIFICAÇÃO E SINTOMAS

De acordo com a Associação Americana de Psiquiatria, depressão é um episódio com período mínimo de 2 semanas, durante as quais se perde o interesse e o prazer em quase todas as atividades. O indivíduo deve experimentar pelo menos quatro sintomas de uma lista que inclui: alterações no apetite/peso, sono e atividade psicomotora; diminuição de energia; sentimentos de desvalorização ou culpa; dificuldade em pensar, concentrar-se ou tomar decisões, ou pensamentos recorrentes sobre morte ou ideação suicida, planos ou tentativas de suicídio. Deve haver, ainda, um prejuízo significativo no funcionamento social, profissional ou de outras áreas importantes da vida.

FUI DIAGNOSTICADA, E AGORA?

Para falar sobre este assunto tão delicado, capaz de atrapalhar a mãe, o bebê e todo o círculo familiar, achamos conveniente conversar com mulheres fortes e inspiradoras que superaram o problema. Confira, a seguir, suas recomendações e testemunhos.

 Decifrando os sinais

“Tive uma gravidez perfeita: feliz, desejada, com um marido apaixonado. O Lucas nasceu de cesárea, em um parto nada humanizado e passou 3 dias na UTI, então não pude ter muito contato. No hospital, a 1a vez que fui tentar amamentar, senti muita dificuldade e não tive muita ajuda. Foi um começo conturbado. Fomos pra casa e não reconhecia o Lucas como filho. Tinha vontade de cuidar, por ser uma criança, mas não havia uma conexão e a amamentação era muito difícil. Toda vez que percebia que não sentia a conexão que imaginava, na minha cabeça romântica, que iria sentir, me dava uma tristeza profunda. No começo, achei que era normal ficar abalada, então não dei atenção aos sinais. Demorei para entender o que eu estava passando. Sou uma empresária bem resolvida, feliz… as pessoas ao meu redor, que não estão acostumadas a me ver fraquejar, também não entendiam. Eu chorava todos os dias – manhã, tarde e noite. Então comecei a ler sobre o assunto e a me identificar com os sintomas, mas isso foi só depois de sofrer muito.”
– Dani Junco, 36 anos, mãe do Lucas.

As mudanças começaram na manhã seguinte ao parto, antes estava tudo bem. No hospital comecei a sentir tristeza, vontade de chorar e um sentimento de que eu não iria dar conta daquele ser tão pequeno e frágil. Quando cheguei em casa, só aumentou. Depois que minha mãe e sogra foram embora (elas se revezaram nas primeiras 3 semanas), entrei em pânico de ficar sozinha com o bebê. Então revezei entre a casa da sogra e da minha mãe até os 4 meses, quando me senti segura para voltar pra casa, mas o sentimento de tristeza e a vontade de chorar não passaram. No começo, o obstetra falou que era normal por causa dos hormônios e que iria passar, mas, como se estendeu, vimos que se tratava de uma depressão e comecei a busca um profissional.” – Leticia Tasselli, 32 anos, mãe do Khemer.

“Logo que o Gabriel nasceu eu já estava super ansiosa pra voltar pra casa e pro trabalho. Lembro que na maternidade  respondia e-mails de clientes.. uma loucura! Enquanto estava no processo de tirar leite, acordar o tempo todo, me preocupar com meu pai doente e outras responsabilidades, meu marido fazia a parte boa que era brincar, dar carinho… isso me incomodava demais, me sentia um verdadeiro robô e me culpava por não conseguir brincar, dar carinho Um mês depois, estava exausta, com muita dor e só chorava. Foi quanto procurei minha ginecologista e conversamos sobre depressão. Até então não entendia que poderia ser isso, até porque existem muitos níveis de depressão e eu não conseguia identificar.” – Daniela Macek, mãe do Gabriel e do Gael

 Humanize o parto

“Eu recomendo muito humanizar o parto. Por mais que você tenha escolhido a cesárea, seja por questões médicas ou por opção, eu recomendo que você converse com os profissionais que vão estar envolvidos, com o médico, pra tentar humanizar ao máximo o parto. Isso é muito importante, já li vários artigos sobre isso e acho que o meu parto poderia ter sido diferente.” – Dani Junco.

 Acompanhamento profissional adequado

“Tenha uma profissional, uma doula, que te acompanhe e te ajude a entender tudo que vai acontecer com você no puerpério. Alguém realmente perto de você, só ficar falando no grupo do Facebook não ajuda. Esse é um investimento que me arrependo de não ter feito, de ter alguém no dia a dia me explicando tudo… eu não teria me sentido tão culpada. E acho que principalmente essa pessoa tem que ser especializada em amamentação – foi a coisa mais difícil, que me deixou mais culpada. Eu não conseguia amamentar, achava que o bebê estava sofrendo, foi muito ruim e acho que essa é uma dica importante: alguém para te ajudar com o processo de amamentação – antes e durante.” – Dani Junco.

“Quando eu já estava com os sintomas de depressão, passei por um neurologista que prescreveu antidepressivos que me fizeram sentir pior do que antes. Lembrei, então, que durante a gravidez meu obstetra recomendou que eu procurasse um endócrino, pois tive alteração e comecei a tomar remédio para a tireoide. Na época, no meio de tantas mudanças, acabei ignorando, por preguiça mesmo. Decidi procurar o endócrino, já que hipotireoidismo e hipertireoidismo podem estar relacionados com a depressão. O endócrino descobriu que eu tomava a dosagem errada de remédio e corrigiu. Talvez, se tivesse ouvido a recomendação do meu obstetra e procurado o endócrino antes, eu poderia não ter sofrido durante 8 meses após o nascimento do meu filho” – Leticia Tasselli.

Minha ginecologista indicou uma psicoterapeuta que me ajudou demais neste momento. Entramos com alguns medicamentos.” – Daniela Macek.

 Paciência com as mudanças na rotina

“O claustro do começo – de ficar em casa o tempo todo, amamentando a cada duas horas, 100% de demanda – contribuiu muito para eu deprimir, porque eu sou e sempre fui muito ativa. Os primeiros meses fora m difíceis. Além disso, ele pegava o peito, mas eu tinha dificuldade, ele não estava ganhando peso… Comecei a suplementar com as mamadeiras – as mamadeiras me davam um espaço entre as mamadas e eu comecei aos poucos a voltar à rotina. Voltar à rotina me ajudou muito a sair desse quadro sem ter que tomar nenhum tipo de medicamento.” – Dani Junco.

 Converse com outras mães

“Conversar com outras mães que passaram pelo mesmo me ajudou muito! Cada vez que elas me falavam das suas experiências eu me sentia mais leve, mas meu sintomas não sumiram. As conversas me acalentavam e me deixava um pouco mais leve em saber que eu não era a única.  Algumas mulheres tiveram que tomar antidepressivos, mas para outras os sintomas passaram sozinhos.” – Leticia Tasselli

“Eu participo de um grupo de mães que chama Mães da Leopoldina. Conversei com algumas mulheres do grupo e com pessoas da internet e isso me ajudou muito” – Dani Junco.

“ Acho que só quem passa por isso entende o sentimento. Na época eu não entrei em contato com mães que enfrentaram essa mesma situação e acabei infelizmente passando por isso sozinha. Mas, depois, ao ler relatos, vi que era mais normal do que eu imaginava e com certeza me senti menos culpada.” – Daniela Macek

 Menos sentimento de culpa!

“Eu sentia culpa por estar triste sendo que a minha vida estava perfeita e eu tinha o filho que tanto quis. Me sentia mal agradecida. Ao mesmo tempo, achava que a minha vida não seria mais a mesma, que eu não faria mais as mesmas coisas que fazia antes e perderia minha independência. Parecia que tudo estava errado. Na verdade, não conseguia levar com leveza a mudança que se instalou na minha vida. Eu ficava com medo de falar para os outros e deles me julgarem, mas era tão forte que não conseguia me conter. Conversei com muitas mães amigas que sentiram a mesma coisa. Mais tarde, uma amiga minha teve os mesmos sintomas e fiquei feliz de poder conversar muito com ela” – Letícia Tasselli

“Infelizmente existe muito julgamento. As próprias mulheres apontam o dedo umas nas caras das outras. Acho que precisamos abrir o jogo! Procure ajuda, fale mais sobre isso, sem tabus. Vamos ajudar mais mulheres!” – Dani Junco

Acho que cada mãe deve viver seu momento! Precisamos ouvir mais o que sentimos e menos a opinião dos outros, tudo fica mais fácil. Hoje sou mãe do Gael de 5 meses e posso dizer que fiz completamente diferente e fui muito mais feliz…” – Daniela Macek

 Informe-se sobre o assunto

“Eu tive uma gravidez incrível, super desejada e mesmo assim aconteceu. Então, acho que as mães precisam saber que não é porque a gravidez foi incrível, que isso não existe. É preciso se informar e estar preparada, ler sobre o assunto… Existe um falso entendimento de que só vai ter depressão pós-parto quem não queria a gravidez, quando o parceiro não é legal ou quando existem outros problemas graves, mas isso não é verdade. A leitura me trouxe muitas informações e, de certa forma, me ajudou a entender um pouco o que estava acontecendo, da parte mais técnica, em relação aos hormônios.” – Dani Junco.

 Encare com leveza

“Uma coisa importante também é aceitar a nova realidade que se instalou e tentar levar a vida com leveza.”
– Leticia Tasselli.

 Permita-se errar e pedir ajuda

“Tente ao máximo pensar que é uma fase, que você realmente está dedicada ao bebê, mas que nem por isso você vai acertar em tudo, ninguém é perfeito. Você vai errar, você vai precisar de ajuda. Não é porque ele é seu filho que você não pode pedir ajuda. Tente não se culpar tanto! Você é mulher, vai estar pronta pra isso, mas é uma questão de tempo pras coisas melhorarem. O Lucas hoje é com certeza a coisa mais importante que já aconteceu na minha vida, é tudo pra mim, tudo mesmo, é um amor muito louco.” – Dani Junco

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